sexta-feira, 21 de outubro de 2011

As Artes de Pedro Seixas

Pedro é um aluno espetacular que tenho no colégio Isba. Entre suas qualidades, descobri que é um desenhista sensível e atento. Em cada linha do seu desenho, cujo tema é frequentemente a batalha entre os homens, é possível perceber a impressionante harmonia que permeia cada detalhe das cenas de destruição. Como se Pedro quisesse sempre nos dizer que, mesmo entre os escombros da insanidade humana, o belo permanece.



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

RENOIR, A CAVERNA DE PLATÃO E CHAUÍ


Adônis Cairo Costa



Um Renoir é um Renoir ou não é um Renoir. Posso fazer uma releitura da arte de Renoir? A meu ver, sim! Posso pintar algo meu, a partir de uma obra de Renoir e dizer que é um Renoir? A meu ver, não!
Faz muito tempo, discutíamos um texto sobre a Alegoria da Caverna de Platão quando fui surpreendido pelo comentário de uma colega a respeito da ferramenta que um dos prisioneiros da caverna havia fabricado para de lá sair. Argumentei que não achava interessante fazer referência à tal ferramenta por um motivo simples: Platão não fala de nenhuma ferramenta na conhecida alegoria. A colega argumentou que o filósofo falava, sim, e que a construção da ferramenta fora, inclusive, objeto de discussão num certo grupo de estudos em outra oportunidade.
Fiquei intrigado com a versão, até então por mim desconhecida. Meses depois, encontrei, num pequeno manual de introdução à Filosofia, um resumo da Alegoria que apresentava a tal versão. Passei a desconfiar de que se tratava de mais um desses ídolos do teatro (vide Francis Bacon), obra de algum autor pouco sério mais preocupado em contar historinhas que em aproximar os alunos (e não os “aprendentes”) do texto original.
No entanto, qual não foi a minha surpresa ao encontrar a tal versão “apócrifa” num livro da professora Marilena Chauí, que eu reputo de uma erudição acima de qualquer suspeita. Lá, a professora diz que “... abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna” (Os grifos são nossos).
Façamos uma breve análise: se há uma fogueira no interior da caverna, como ela pode projetar a sombra do que ocorre do lado de fora para dentro da mesma caverna? Temos aqui, no mínimo, um problema de Física.
Platão, mais cauteloso e, talvez, por ser o autor da ideia, teve o cuidado de colocar a fogueira do lado de fora, o que, inclusive evitava que os seus moradores ficassem sufocados com o fumaceiro proveniente da tal fonte de luz, geradora das sombras.
Mas a professora não para aí. Fiel ao seu propósito de reinterpretar a obra platônica, sugere, explicitamente, que “um dos prisioneiros, inconformado com a situação em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. [... ]Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna.”
Aqui, a meu ver, está o maior problema. A questão de como a sombra vai conseguir se projetar de fora para dentro com a fonte de luz no meio do caminho não é difícil de ser solucionada: um pouquinho de boa vontade e qualquer leitor atento, com um mínimo de senso comum percebe que o que houve foi apenas uma acidental (espero) alteração do local onde a fonte de luz deveria estar. No entanto, o deslocamento necessário para que o prisioneiro da caverna construa uma ferramenta é muito mais complexo: implica numa alteração do que Platão quer dizer com sua alegoria.
No texto original (na verdade, o que tenho é uma tradução para Português feita pela professora Maria Helena da Rocha Pereira), Platão diz: “Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora”.
Alguém poderá objetar, dizendo que não há grandes diferenças entre a versão da professora e o texto de Platão. É um direito. Eu, no entanto, penso que temos aqui uma distância abissal entre as duas “alegorias”: a de Platão remete à necessidade de que alguém nos tire da ignorância. O texto de Chauí parece querer insinuar que é possível sair da ignorância, sozinho. Considero a discussão a respeito de como alguém pode sair da ignorância bastante saudável. O que não considero saudável é colocar no texto do pensador uma ideia que não lhe pertence.
Há mais uma questão, e aqui assumo que estou fazendo meras conjecturas, apenas no sentido de entender as motivações da alteração empreendida pela professora: parece-me que o projeto do prisioneiro desenhado por Chauí é curiosamente semelhante ao projeto das filosofias romântico-libertárias que falam do homem que, tendo percebido as condições de opressão em que se encontra, constrói mecanismos de libertação e, em seguida, convida outros a fazerem o mesmo. Gosto de pensar que esta é a motivação da professora. Gosto de pensar que a motivação para a deturpação do texto de Platão é de ordem política. Gosto, mas não considero totalmente honesto.
A professora Marilena Chauí fez sua reescrita num livro didático, um livro para pessoas que, provavelmente, nunca tiveram acesso ao texto original. Por este motivo creio que seria mais elegante se ela apresentasse, primeiro, o texto do mestre Platão e, em seguida, sua releitura. Ficaria ainda melhor se ela, consciente como é do quanto vivemos enganados, aproveitasse seu texto para explicar que não devemos acreditar em todo mundo que diz ter vindo nos libertar. Dessa forma, poderíamos ficar atentos a grupos como os que hoje estão no governo, quando eles se anunciam como estando acima do bem e do mal. Assim, nós calaríamos, por exemplo, a boca dos intelectuais que insistem em afirmar que o grupo que está no poder é a melhor coisa que poderia ter acontecido ao Brasil. Ainda bem que a professora não pensa como esses intelectuais, senão eu ia achar que ela também ainda não saiu da caverna...
        


domingo, 2 de outubro de 2011

OS ALUNOS DE BACON, OU SOBRE COMO É FÁCIL PRODUZIR MENTIRAS

Estamos no limiar do século XXI. Esta é uma primeira mentira. O século XXI não existe, em si. O que existe é uma datação considerada a partir do evento Jesus Cristo. A Ciência acaba de ser sacudida em suas bases por uma notícia, no mínimo, preocupante: parece haver algo mais veloz que a luz. Se, e somente se isso for verdade (em tempo: verdade é a adequação do que se pensa com o que, de fato, ocorre), então, todo o alicerce da cosmologia contemporânea estará sob suspeição. Nas sacristias dos grandes templos da Ciência, o pau tá quebrando, para dizer o mínimo. As reações lembram o que ocorreu na Renascença, quando Galileu Galilei ousou afirmar o que alguns já desconfiavam ser verdade: a Terra não estaria fixa no centro do universo finito. Nos institutos de física do mundo inteiro, os professores mais velhos resistem e afirmam que deve estar ocorrendo algum erro de medição. Não descarto a possibilidade. Tudo é possível, menos nada, por uma questão de lógica.
Vamos ver o que nos aguarda. Agora, é esperar para ver! Eu, de minha parte, como não estou profissionalmente implicado nas consequências do resultado, torço irresponsavelmente para que o tal neutrino    (que eu não consigo ter a mínima ideia do que venha a ser) seja, realmente, mais rápido que a luz (coisa de uns 60 nanossegundos, segundo li, um absurdo de superação do recorde!). Talvez não seja tão mais rápido assim... uns 20 nanossegundos e as pessoas já saem por aí espalhando todo tipo de boato, eu hein!!
Por mim, não, como diz minha mãe. Frase estranha, difícil de analisar, mas que pode ser traduzida para Português urbano como "a mim, pouco interessa o resultado". Ou melhor: interessa sim, sobretudo se for um resultado que provoque muita polêmica... já imagino os físicos pulando das janelas dos centros de pesquisa, doutores sendo processados, famílias em desespero, um espetáculo!

XXX

Em muitas universidades baianas os alunos (isso mesmo, alunos) são proibidos por alguns mestres (isso mesmo, mestres) de usar a palavra "aluno" para se referir a... aluno. Parece um trava línguas, mas é a mais pura descrição de uma situação, no mínimo, sui generis.
Não conheço a origem do equívoco, mas o fato é que, por algum mal entendido, ou por obra mal intencionada de algum doutor em educação, começou a circular pelo país em geral e pela Bahia em particular, a crença de que a palavra "aluno" carregaria em sua etimologia uma negação da luz aos estudantes.
Segundo os "doutos" divulgadores dessa crença, o "a" de "aluno" seria um prefixo de negação associado à palavra "luno"  que seria uma forma latina do que, em Português traduzimos por luz (aquela que, coitada, parece ter tido seu recorde quebrado pelo tal neutrino que, já disse, não faço ideia do que seja). Tudo muito bem posto, se tudo fosse verdade: a-luno, portanto, seria, literalmente, sem-luz. 
Ocorre que, quando vamos ao dicionário de Latim, o que encontramos como "luno" é algo que nos remete a curva, arco, tal como os latinos, ou quem por eles, relacionaram as linhas curvas  às curvas (ou à curva) da lua. Nesse caso, e considerando que o prefixo estivesse correto, o nosso aluno não seria mais um  "sem luz" e, sim, um "sem curvas" (um reto????).
Se continuarmos, teimosos, a bisbilhotar o dicionário de Latim, eis que encontraremos, surpresa das surpresas, a palavra "alumnus" significando: criança de mama, menino, educando, discípulo!
O bom senso me leva a derivar a palavra "aluno" do vocábulo "alumnus", e não da etimologia inventada sabe-se lá por quem e sabe-se lá com que intenção.
O fenômeno, no entanto, é que muitos dos que hoje aceitam a estranha e inverossímil "etimologia" são pessoas afeitas à pesquisa, pessoas que não teriam qualquer dificuldade de ir ao dicionário de Latim para, pelo menos, verificar se a tal origem da palavra era confiável ou não. Porque não o fazem?
É aí que entra Francis Bacon. Segundo o filósofo, nós temos a tendência a acreditar no que os eruditos falam (o famoso ÍDOLO DO TEATRO) e nem nos damos ao trabalho de verificar se o que falam é bem fundamentado ou não. Para ser coerente, eu mesmo não recomendo a ninguém aceitar este meu texto sem dar uma boa olhada num bom dicionário de Latim. Já pensou se eu estiver inventando tudo isso?
E é aí que entram os neutrinos: não sei o que são, nunca vi um deles, mas os cientistas não só afirmam que existem como também, agora, que parecem mais rápidos que a luz. Verdade? Mentira? Queridos, vou dar uma olhada no meu dicionário de Latim. Se lá estiver escrito que neutrino (lá deve estar algo como "neutrimnus") significa "nova velocidade", então saberei com convicção que, sim, o neutrino é mais rápido que a luz.
Vamos à etimologia: "neutrino" vem da conjunção do prefixo grego "neo" que por desgaste de uso chega ao latim como "neu", mais "trimnus", que significa, tanto em Grego quanto em Latim, "velocidade" (daí derivam as palavras trenó e, mais tardiamente, trem, meios de transporte que se deslocam em grande...velocidade). Pegaram a ideia? Ora, se "neutrino" significa  originalmente "nova velocidade", isso indica que os antigos já sabiam que as tais partículas eram mais rápidas que a luz. Pronto: não só acabei de cunhar nova etimologia com ainda fiz uma sensacional descoberta de Arqueologia da Ciência.
Acabei de ler o texto para minha linda esposa Marta (ela sempre gosta do que escrevo...mulher sábia). Ela sugere uma outra brincadeira: imaginemos que a etimologia QUE EU INVENTEI começasse a circular por aí como verdade. E toda vez que um certo professor mal-humorado quisesse dizer que o aluno não tem velocidade mental, o chamasse de... atrino. O aluno, humildemente, perguntaria ao mestre o significado da palavra e ele, erudito, responderia: "o vocábulo atrino deriva da conjunção do prefixo 'a', que em Latim significa 'sem', mais 'trino', que em Latim significa 'velocidade'. Ou seja, você é um lerdo". O aluno iria para casa, buscaria a tal etimologia e descobriria que o professor estava "viajando na maionese". E, então, silente, diria de si para si mesmo: "Ele pode me achar lerdo, mas ele é que é um apedeuta!" (vocês não acham que eu vou dar a etimologia, acham?).

UNIVERSO

DOU UM DOCE A QUEM ADIVINHAR QUEM ESCREVEU ESSE POEMA... UMA DICA: FOI UMA ALUNA DO GREGOR... ACERTOU QUEM DISSE : CATARINA
VAMOS LÁ...

Mistérios contemplam pairando os ventre dos eternos castelos
que de luzes apenas enaltecem o vazio leito
Permitindo encobrir infinitos descobrimentos
Radiando tua graça a formar cores mágicas

Cores, misturas póstumas, agradável aos olhos da noite
Sabores, gostos finos e súbitos ao atempero celeste
Dores, somente arredio sentimento partilhados ao vento

Como é belo
Complexo sentir do prazer
Inexprimível, inexplicável melodia aos doces cânticos
Música admirada às estrelas silenciosas fritantes
Brilhante como o mais puro afano
Apenas o toque do tempo
Ao mestre algoz, trovador pulsante
aos beijos fulgosos entre a lua e o céu
A noiva-dama, esplêndida na glória da noite
o noivo radiante às extensões incabíveis
Imensuráveis...

Lança-se a toneladas de infinito
Delicadamente, seda ao cair sob o noivo
Este, ao acender sem alento o sol do seu corpo esvaira
Recebido a sua tão radiante roupa
Já é dia!

REFLEXÃO

MINHA ALUNA, CATARINA, DO GREGOR, CONTINUA ALIMENTANDO MEU BLOG COM SUAS REFLEXÕES POÉTICAS

Não quero ser testada
Não quero ser provada
E nenhum valor insignificante em minha vida atribuída
Apenas ser compreendida
Apenas ser ouvida!

Palavras, só o que posso usar
Somente me servem para explicar
Pondo para fora todo sentimento
Que para meu desespero, meu consentimento
Sou obrigada a aguentar

Sei que um dia não tardará a chegar,
Profundo entendimento que bastava
tal escondido, deturpado pela ignorância que resiste
Ainda sendo alimentada, insiste, persiste
"Todo mundo morre, mas nem todo mundo vive".
"As coisas nem sempre são o que parecem"
"É preciso buscar novos horizontes, o contentamento nem sempre nos levará ao conhecimento"