sábado, 12 de março de 2011

tipos de falácia

Tipos de falácia

Falácia de relevância é aquela em que as premissas são logicamente irrelevantes para as conclusões.
  1. Argumentum ad baculum (recurso à força) – Equivale a substituir a força do argumento pelo argumento da força. Quando o pai pede para lavar o carro e o filho diz que está cansado, o pai diz que, então não poderá lhe dar a mesada, por exemplo.
  2. Argumentum ad hominem (ofensivo) – é o argumento utilizado contra alguém. Se não consigo admitir que a pessoa tem razão, digo que é um mau caráter, por exemplo, e que isso é suficiente para que ninguém nele creia.
  3. Argumentum ad ignorantiam (argumento pela ignorância) – defende que algo é verdade porque ninguém provou sua falsidade ou, ao contrário, que algo é falso porque ninguém provou sua veracidade. Num tribunal, não é falacioso devido ao princípio legal da presunção de inocência. Por exemplo, há pessoas que dizem que existem discos voadores e isso só pode ser verdade porque ninguém conseguiu provar que eles não existem
  4. Argumentum ad misericordiam (apelo à piedade) – consiste em apelar para os sentimentos do interlocutor, como no caso de um assalto em que, em vez de se discutir se há ou não provas suficientes contra o réu, busca-se sensibilizar os jurados, falando das condições de pobreza do réu, por exemplo.
  5. Argumentum ad Populum – consiste em sensibilizar o público mais com a eloqüência do discurso que com o seu conteúdo. Um exemplo é quando a propaganda diz que você deve comprar determinado produto porque “tá todo mundo comprando”.
  6. Argumentum ad Verecundiam (apelo à autoridade) – consiste em utilizar testemunho de pessoas de reconhecida autoridade para confirmar argumentos que nem mesmo estão ligados à sua área de atuação. As propagandas de produtos estão cheias de pessoas de uma área (atores, por exemplo, ou jogadores de futebol) confirmando as qualidades de um produto a respeito dos quais não são especialistas.
  7. Acidente – consiste em utilizar um argumento geral para um caso particular. Por exemplo, alguém pode se recusar a entrar em um restaurante porque na porta há um aviso proibindo a entrada de animais. A pessoa em questão pode argumentar: “se nenhum animal pode entrar, então eu, que não sou exatamente um vegetal, não posso entrar”. O que ocorre aqui é que a pessoa desconsiderou que o homem, no caso, é a exceção e, portanto, não pode ser atingido pela regra.
  8. Acidente convertido (generalização apressada) – por exemplo, uma pessoa que viu uma criança salvar a mãe porque aprendeu a dirigir ainda muito jovem pode pensar que todas as crianças devem aprender a dirigir.
  9. Falsa causa – Atribuir a um fenômeno uma causa irreal, apenas, por ter sido a causa atribuída uma ocorrência anterior ao fenômeno. Um exemplo é a pessoa pedir a Deus que lhe envie um ônibus e afirmar que foi Deus quem mandou porque o ônibus apareceu logo após o pedido.
  10. Petitio Principii (petição de princípio) – consiste em apresentar como premissa o mesmo argumento da conclusão , só que de forma não tão clara. Um bom exemplo é a afirmação de que é verdade que Deus existe porque isto está escrito na Bíblia e a Bíblia é a palavra de Deus, que não mente.
  11. Pergunta complexa – consiste em levantar questões que não permitem ao interlocutor uma resposta sem que se comprometa. O problema é que há mais de uma questão embutida na suposta questão única. Por exemplo, um professor que ouve de um aluno o pedido para aumentar as questões para uma determinada tarefa e faz a seguinte pergunta: responda apenas sim ou não, você quer que eu aumente  o número de questões e prejudique seus colegas? Ora, tal pergunta contém duas questões. O aluno pode querer mais questões e nem por isso querer prejudicar os colegas.
  12. Ignoratio elenchi (conclusão irrelevante) – é o recurso em que  a pessoa trata de um assunto que não é o ponto em questão, desviando a atenção do interlocutor, de forma que ele acabe aceitando o argumento principal por ter aceitado o argumento secundário. Um bom exemplo é o do promotor que, tentando levar o réu à acusação, gasta longo tempo discorrendo sobre os horrores da alma de quem comete um crime, sem se preocupar em provar que o réu é, de fato, um criminoso.

(Adaptado de COPI, Irvin M. Introdução à lógica. S. Paulo: Mestre Jou, 1981.)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Raquel Sheherazade

http://www.youtube.com/watch?v=xY2BSJ6Xttg&feature=player_embedded

sobre o dia da mulher

Ontem foi o dia internacional da mulher. Do crime que culminou com a criação da data, nem se deve falar, senão para lembrar outros tantos crimes que foram cometidos, não apenas contra mulheres, mas contra quaisquer pessoas que não podem se defender.
Tenho amigos que não entendem a necessidade de as mulheres serem igualmente aquinhoadas quando o assunto é repouso em casa, distribuição de tarefas domésticas... experiências extra-conjugais. Entre mandar flores no dia em que se rememora a grande chacina cometida por industriais nos EUA e saber que as mulheres e os homens são dignos do mesmíssimo respeito e consideração, a diferença é abissal.
A esse respeito, lembro o mito dos andróginos, presente no Banquete, de Platão. Ali está uma das narrativas mais belas a respeito da igualdade entre os sexos. Como sabemos, segundo a narrativa, havia, no princípio, três tipos de sexo: o masculino, o feminino e o andrógino (andros=homem+gynos=mulher) como os seres eram redondos, não copulavam ente si, mas com a terra. E como eram fortes, possuindo quatro pernas, quatro braços duas cabeças, intentaram tomar o Olimpo de assalto ao que Zeus, prontamente, respondeu com uma ordem simples, mas eficaz: os homens (dos três sexos) seriam separados pelo meio, no sentido vertical (ufa!).
Assim, os de sexo masculino foram divididos em pares de homens, os de sexo feminino em pares de mulheres e os andróginos em pares de um homem e uma mulher. Separadas as metades, Apolo foi encarregado de curar as feridas do corte, juntar tudo numa costura perfeita, da qual ficou apenas um sinal: o umbigo. E para o lado do corte, a cabeça foi virada. Quando as queridas metades seccionadas (daí a palavra sexo)se encontravam, abraçavam-se e ficavam assim, sem comer, sem qualquer atividade, tentando desfazer a ruptura (o arrependimento só vem tarde). Acabavam morrendo de inanição. Zeus, então, com piedade das metades, ordenou a Apolo que colocasse os órgãos de reprodução para o lado do corte. Assim, quando os de sexo (metade) diferente se encontravam, podiam procriar entre si, gerando a nova descendência humana. E quando eram de sexo (metade) igual, podiam aumentar o prazer de estar juntos, embora em ambos os casos, nunca se poderia saciar o desejo intenso e natural de estar totalmente unidos. O legal dessa narrativa é que, além de valorizar a absoluta igualdade de condições existente entre os sexos, ainda deixa espaço para refletirmos sobre o absurdo de tecer juízo de valor em relação às pessoas que cultivam relações homoafetivas.

Fica, então, a reflexão: somos todos, TODOS, iguais, com pequenas diferenças que, agora separados, nos ajudam a reencontrar a querida outra metade (ou a cara metade, como se diz). E nos ajuda a compreender, também, que toda metade é cara, todo OUTRO deve ser querido. E nisso, que me desculpem os de sexo masculino, mas as mulheres são muito, muito hábeis: na percepção e na aceitação do diferente (quem sabe, um dia, a gente chega lá!)

pagando para entrar na rua

Às vezes, no meio de uma conversa aparentemente informal, surge uma ideia que se fixa na mente como "el musguito en las piedras". Estava conversando com minha adorável (e sábia) esposa (Marta), quando ela me lançou o seguinte petardo: "No carnaval da Bahia as pessoas pagam ingresso para entrar na rua". Aquilo me incomodou. É triste ver como as pessoas terceirizaram a festa. Penso nas bacantes, nas festas em honra de Dionisos, nos festivais da fertilidade. Imagino que, originalmente, os cultos da fertilidade eram populares, no sentido mesmo de serem construídos pelo povo e para o povo. Penso nas virgens das florestas das noites de quarto crescente na Cornualha. No Brasil, certamente haveria algo igual, não sei (calaram as vozes da narrativa oral do povo do Continente Antigo e começaram o silêncio pelo “batismo”: Novo Mundo. O homem sempre celebrou a vida, isto é arquetípico.
Atualmente, no entanto, parece que os sacerdotes da festa se tornaram os senhores não apenas do divertimento, ditando o que devemos fazer, mas também do espaço do divertimento, ditando onde podemos fazer o que eles decidem que faremos. É triste! Claro, há ainda (sempre haverá!) o espaço para o folião que não aceita ser "enredado" pelas cordas, qual Odisseu atado para resistir ao canto "nocivo" da sirenes. Sempre haverá o espaço para o folião pipoca. Mas a que custo?
A questão parece mais ampla que o simples debate sobre o modo como se organiza o carnaval. Parece que as pessoas já não sabem como fazer qualquer festa. Os pais contratam animadores para as festas infantis. Animadores? Então, as festas são desanimadas? Festas de crianças? Desanimadas? Parece um paradoxo, não? Faz-me lembrar Aldous Huxley com seu Admirável Mundo Novo. As pessoas tomavam o "soma" (que em Grego, significa apenas CORPO), um comprimido que dava...prazer. Lembro que no mundo pensado por Huxley a palavra "amor" era considerada obscena.
Dá medo! ...E o amor ficou obsceno, e a rua foi tomada por pessoas que pagaram para estar lá. E se você não pagou, pode ficar, mas tem que ceder lugar quando a horda dos pagantes invadir o espaço público agora pivatizado com a anuência do poder público, afinal essa é a terra de todos nós. E então, pergunto, como o Zorro da piada: nós quem, cara-pálida (será que ainda usa hífen?)?.

sábado, 5 de março de 2011

o voo da coruja

Humanos, mortais, criaturas! Eis que tomei coragem e criei um blog para tratarmos das coisas da filosofia escolar. Aqui vamos tentar cuidar do nosso dia a dia em sintonia com a Filosofia.
Um abraço
Adônis