quarta-feira, 9 de março de 2011

sobre o dia da mulher

Ontem foi o dia internacional da mulher. Do crime que culminou com a criação da data, nem se deve falar, senão para lembrar outros tantos crimes que foram cometidos, não apenas contra mulheres, mas contra quaisquer pessoas que não podem se defender.
Tenho amigos que não entendem a necessidade de as mulheres serem igualmente aquinhoadas quando o assunto é repouso em casa, distribuição de tarefas domésticas... experiências extra-conjugais. Entre mandar flores no dia em que se rememora a grande chacina cometida por industriais nos EUA e saber que as mulheres e os homens são dignos do mesmíssimo respeito e consideração, a diferença é abissal.
A esse respeito, lembro o mito dos andróginos, presente no Banquete, de Platão. Ali está uma das narrativas mais belas a respeito da igualdade entre os sexos. Como sabemos, segundo a narrativa, havia, no princípio, três tipos de sexo: o masculino, o feminino e o andrógino (andros=homem+gynos=mulher) como os seres eram redondos, não copulavam ente si, mas com a terra. E como eram fortes, possuindo quatro pernas, quatro braços duas cabeças, intentaram tomar o Olimpo de assalto ao que Zeus, prontamente, respondeu com uma ordem simples, mas eficaz: os homens (dos três sexos) seriam separados pelo meio, no sentido vertical (ufa!).
Assim, os de sexo masculino foram divididos em pares de homens, os de sexo feminino em pares de mulheres e os andróginos em pares de um homem e uma mulher. Separadas as metades, Apolo foi encarregado de curar as feridas do corte, juntar tudo numa costura perfeita, da qual ficou apenas um sinal: o umbigo. E para o lado do corte, a cabeça foi virada. Quando as queridas metades seccionadas (daí a palavra sexo)se encontravam, abraçavam-se e ficavam assim, sem comer, sem qualquer atividade, tentando desfazer a ruptura (o arrependimento só vem tarde). Acabavam morrendo de inanição. Zeus, então, com piedade das metades, ordenou a Apolo que colocasse os órgãos de reprodução para o lado do corte. Assim, quando os de sexo (metade) diferente se encontravam, podiam procriar entre si, gerando a nova descendência humana. E quando eram de sexo (metade) igual, podiam aumentar o prazer de estar juntos, embora em ambos os casos, nunca se poderia saciar o desejo intenso e natural de estar totalmente unidos. O legal dessa narrativa é que, além de valorizar a absoluta igualdade de condições existente entre os sexos, ainda deixa espaço para refletirmos sobre o absurdo de tecer juízo de valor em relação às pessoas que cultivam relações homoafetivas.

Fica, então, a reflexão: somos todos, TODOS, iguais, com pequenas diferenças que, agora separados, nos ajudam a reencontrar a querida outra metade (ou a cara metade, como se diz). E nos ajuda a compreender, também, que toda metade é cara, todo OUTRO deve ser querido. E nisso, que me desculpem os de sexo masculino, mas as mulheres são muito, muito hábeis: na percepção e na aceitação do diferente (quem sabe, um dia, a gente chega lá!)

Um comentário:

  1. Grande Mestre Adonis,
    Falou e disse, concordo plenamente e assino embaixo.
    Feliz daquele pobre homem que acha a tampa de sua panela e no auge de sua loucura tem coragem suficiente de disser SIMMM à união e diz indiretamente (preciso passar o resto de minha vida ao seu lado minha amada, tome conta de mim), e ela “Varoa de Deus” com pena diz: OK, te agüentarei ate que a morte nos separe.
    Estava refletindo aqui e lembrando que durante minhas aulas em outra instituição de “nível superior” desejei durante um bom tempo ter participado do famoso Banquete. Rapaz, só tenho a te agradecer por vc em sala ter ampliado minha percepção. Hummm hoje em dia perdi até a vontade de ter participado.
    Hehehehhe.

    Rodrigo Fraga

    ResponderExcluir