quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Prisco, de novo, o velho...

Lembro-me da ultima greve da PM. Não com os detalhes que minha memória criativa oferece cada vez que tendo recordar algo antigo. Lembro-me da greve como um período de tumultos, as pessoas com medo de que algo grave acontecesse (como se não acontecesse nada de grave nos períodos "normais").
Ler, na semana passada, que os homicídios tinham chegado a cinquenta e tantos, "o dobro do que acontece em semanas normais", foi, para mim, como uma pancada no estômago. Imaginem: considerar normal uma semana em que morrem, por assassinato, mais de vinte pessoas numa cidade!

Lembro-me, dizia, da última greve da PM. O PT apoiando, defendendo o direito democrático da greve, considerando com gravidade a necessidade de os policiais auferirem um salário digno; incentivando os policiais, conclamando a população a apoiar a legítima reivindicação daqueles que arriscavam suas vidas para assegurar nosso direito de ir e vir; acusando o Estado em geral e o governo (da Bahia) em particular de falta de sensibilidade, trato político, eficácia, preocupação com a segurança dos cidadãos. Devia ter mais coisa nos discursos. Algumas eu devo ter acrescentado por conta de minha memória criativa. Tivesse eu um pouco mais de decoro (não aquele dos parlamentares) e empregaria (quase escrevo "gastaria") um pouco de tempo pesquisando os fatos, tais como foram publicados pelos jornais e revistas da época. Mas estou cansado, e quero apenas escrever algo descomprometido com os rigores metodológicos e com as pretensões de verdade.
Pensava, hoje, naquela greve ( e todos os jornais lembrando que o mesmo Prisco da última vez era um dos líderes da paralização atual) quando, de repente, o nome de Prisco me assaltou (trocadilho infeliz) oferecendo uma luz nova: não sei de onde tirei a ideia da semelhança entre a palavra "aprisco" e o nome do líder do movimento paredista. Recorri ao velho amigo dicionário e este me informou que prisco não tem qualquer relação com aprisco. O segundo, como se sabe, significa curral, local onde se guardam as ovelhas; também significa covil (lugar onde os bandidos se encontram), mas esse é um significado meio em desuso; os religiosos consideram aprisco os membros da Igreja, e assim por diante. Já "prisco", informa o Houaiss, significa antigo, velho.
Fiquei pensando: então Prisco, o soldado paredista, já tem no nome a marca da vocação. Estivesse eu lendo um romance, diria: que autor inteligente! colocou no personagem um nome que tem tudo a ver com o que ele está fazendo: repetindo o feito de tempos antigos. De fato, Prisco é antigo. Pena que os seus amigos e tutores de antigamente já não sejam os mesmos. Os petistas que, antigamente, eram a favor de todo movimento que buscasse a melhoria de condições dos trabalhadores, já não pensam assim.
Prisco é antigo e, por isso, incomoda. Jacques Wagner é moderno! o PT é moderno. O antigo incomoda o moderno.
Mas, estou sendo injusto com o nosso governador. Pensando melhor, sou obrigado a admitir que ele não é tão moderno assim. Ele também é, de certo modo, prisco. Senão, vejamos: tropas policiais, recusa a dialogar, levando os policiais ao estado de greve, grandiloquência, soberba, cinismo... tudo isso me lembra alguém que há poucos anos, aqui na Bahia, só estava feliz quando as ovelhas não estavam balindo e permaneciam silentes no aprisco. Ave, Prisco!

13 comentários:

  1. Querido Adonis, Obrigada pela lembrança. Já ando "priscamente" confusa em meio a tanta normalidade. Vou tomar a liberdade de postar o seu texto. Posso?

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  2. Caro professor, por gentileza, entra em contato com URGENCIA para me autorizar a publicar esse texto no LITERATURA CLANDESTINA. Mandei a sua colega Anna Carvalho falar como senhor, mas essa ficou com má vontade. Por favor, manda sinal de fumaça...
    Abraço
    Elenilson
    http://literaturaclandestina.blogspot.com/

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    1. Elenilson, querido
      Agradeço seu entusiasmo. Pronto. Está autorizado. E perdoe Anna: é que o gosto literário dela é, deveras, muito apurado. Ainda bem que existem pessoas generosas como você (rs)

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  3. Nem pedi, viu? Já fui compartilhando. Abraço, Adonis!

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  4. Você sabe que pode, né, Rubão? Valeu, irmão!

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  5. Pronto professor. Só falta o senhor aparecer por lá agora. Obrigado viu! Um abraço

    P.S. Vc toparia uma entrevista para falar de educação, andei lendo umas coisa aqui e acho que o senhor não pensa como a maioria dos seus colegas que vivem num mundo encantado de faz de conta das escolas particulares.

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  6. Olá Adonis li seu artigo e acho que é bem colocado o "prisco" da questão, cadê o velho Partido dos Trabalhadores, será que viraram o "Poderoso Chefão" de um comercio internacional chamado BRICS?

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  7. Comentário 1.
    Esses índices de 150 mortes em um período de 12 dias mostram algumas coisas. Talvez a mais importante é que Sérgio Buarque de Holanda estava certo quanto a sermos "homens cordiais": APENAS 150 assassinatos quando não havia nenhum policiamento?!?!

    Além disso, algumas coisas já vêm sendo esclarecidas: várias dessas mortes (30%, segundo a Secretaria de SENSAÇÃO de Segurança Pública, estão claramente ligadas a grupos de extermínio: alguns policiais militares)

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  8. Comentário 2.
    Existe, no mesmo Houaiss, uma segunda entrada para Prisco. Trata-se de uma palavra (etimologicamente de origem obscura: deus é mais) cujo significado é
    "salto para o lado ou para a frente que o cavalo dá quando quer livrar-se do cavaleiro". Tb faz sentido né? Prisco querendo derrubar Wagner...

    Coisas...

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  9. Espetacular!Pensar em Prisco dando um prisco para derrubar Wagner. Resta uma questão, caro Reinofy: Quem é o cavalo e quem é o cavaleiro? Lembro-me da metáfora da Revolução dos bichos. Já não sabemos quem é porco e quem é gente. As pessoas, tão semelhantes aos porcos, os porcos tão parecidos com pessoas...(que nos perdoem os porcos e os cavalos). Animais tão nobres não deviam ser comparados a criaturas tão pobres (que me perdoem os pobres... e por aí vai...)

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  10. esse mestre Adônis é sensacional :). no dicionário em que procurei sobre prisco encontrei o significado: "De tempos antigos" então,da na mesma do que o mestre tinha falado(a não ser que ele consiga uma prova do contrário).deixar de lado os costumes "priscos" não é fácil e creio que Wagner ou qualquer outro político "prisco" o fará tão cedo.

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